margaridas

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SER VERTICAL

Ser antes de tudo

o que se quer.

Não parecer o que se não é.

Ser afinal cada qual

quem é.

Ser sempre o que se deve ser.

Vertical.

Inteiro.

De pé.

Maria Emília Costa Moreira

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quarta-feira, 30 de março de 2011

QUE BRILHO É ESTE?

Deixo-me levar

Como um rio pejado de luz.

Vejo-me com asas

A poisar nas estrelas.

Ah! Se ao menos eu pudesse

Agarrar a lua

Que brilha no fundo

Dos teus olhos…

Envolvo-me no perfume

Que se desprende

Da tua boca ardendo

Em silêncios...

Deixo-me encharcar

Na bruma dos sentidos

Na noite quente,

Enquanto lá fora a chuva canta.


Ah! se o espelho dos caminhos

Me restituísse a primavera,

Me lavasse o coração,

Me fizesse outra,

Capaz de enfrentar o corpo

Sulcado de cicatrizes

E despir a mente

Do véu de fumo antigo...


Ah! Se ao menos no regaço das pedras

Ou no coração das águas

Eu encontrasse abrigo!

Rio da Fonte, 30 de Julho de 2005

VISÕES

Na lonjura do tempo
E do espaço
Sinto pelo olfacto
O crepitar do caju
E do amendoim,
Redondo como olhos de peixe
- sobre a chapa quente -
A abrir-se para mim.


E sofro a perda
De mil sabores,
De tanto mar de cetim,
De tanta concha de mil cores
Que me fogem das mãos
E me fitam misteriosas
Com os seus olhos de flores.

Entrego-me ao sonho
Como se acariciando
A memória,
A visão longínqua
Se tornasse real.


Invento o diálogo
Perdido da adolescência.
Toco um a um os objectos:
Os que trouxe
E os que ficaram
Na casa africana.


Faço nascer os meus versos
Com um manancial de cor,
E na neblina perfumada
De festas,de rituais,
Invento a viagem
Mil vezes adiada.

Rio da Fonte, 10/6/2003






segunda-feira, 28 de março de 2011

PRESENTE SEM FUTURO

Num percurso breve

o tempo lança o amor-chama

no presente.

Intenso se multiplica

a cada hora.


Sentimento quente,

ansiedade,

uma linha de horizonte

tão ténue e ilusória.


Esquecemos os afazeres,

o obrigatório fica lá longe.


Sonhos fantasiados

de futuro,

em ninho aconchegado.

Na verdade, é intransponível

o muro.


Leça da Palmeira, 2005

AFECTOS

Bela é a tua boca de rosa

de pétalas carnudas enfeitada

e com gotas de orvalho humedecida

num sabor de volátil mariposa.


Um perfume leve de Primavera

transpira do teu olhar

de líquidos cristais verdes

poisando sobre os meus ombros nus.


São asas de corvos

o ondulado dos teus cabelos

abandonados no meu regaço

numa manhã extrema de luz.


Sobre a tua pele macia brilha

o espanto do sol

e mais tarde o ciúme da lua.

A cama coberta de fino lençol

para que a poesia habite nua.


Leça da Palmeira,12 de Abril de 2002

sábado, 26 de março de 2011

GOTA D'ÁGUA

Fios prateados escorrem

ininterruptos das beiras dos telhados

Serenos e persistentes

longos e delgados

caem lentamente

A música é suave caindo do alto

sobre o zinco no passeio

no campo na estrada

Um carro passando

e a sinfonia da água é diversa

e musicada

Fala nos ares

canta nos mares

chora na terra

Eu te saúdo ó mensageira vera

as mil promessas que encerras

os mil desejos

Eu te saúdo eu te saúdo

Gota d’água mansa

Por tudo por tudo

Rio da Fonte, 1977

sexta-feira, 25 de março de 2011

ÍNSUA


A Ínsua está lá adiante

No meio do oceano.

Hei- de ir a pé lá vê-la

Na grande seca do ano.


Hei-de ir a pé lá vê-la

E conhecer os seus recantos.

A Ínsua cheia de escarpas

Também tem os seus encantos.


Marreco, Agosto 1976

















O GUARDA-JÓIAS

A caixa onde guardo

o coração

deixou que entrasse o pó

do tempo.


Bom era que a madeira

que o cerca não deixasse

o caruncho acontecer.


Bom era que a caixa

fosse de metal precioso

e pedrarias de tanta cor

e se fechasse à correria dos anos.


Ah! Se o meu coração

permanecesse incólume

à passagem da dor.


Leça da Palmeira, 30 de Março de 2006

TAREFAS MATINAIS

Gastei a manhã

entre um copo de água

o leite com cevada,

o pão e a marmelada.


Gastei-a depois no quintal:

o milho para os galináceos,

a água renovada aos patos,

e umas quantas peças

de roupa delicada

lavada à mão.


Gastei não sei quantos

minutos da hora

a preparar

legumes para a sopa,

a cama refeita

e a roupa, muita roupa

para brunir.


E gastei a manhã

sem o sentir.


Rio da Fonte, 16 Outubro de 2000

quarta-feira, 23 de março de 2011

PASSADO

Pelos caminhos

sinuosos da aldeia

com luz pingada do arvoredo

onde passeio um passado

recheado de recantos poéticos

com sabores misteriosos

com cores de encantamento

sobre o ventre campestre


Pelas velhas ruelas

com pedras polidas

e poeira aos molhos

nas amoras sumarentas


As sebes de sabugueiro

a branquear-me os olhos

com a flor perfumada

a erva-doce a trazer-me a beleza

baloiçante do seu verde aromático

neste afundar de dia sereno


Pelos pinhais

o negro melro assobia

e o cuco repete a canção

que vai pelo céu

com asas ocultas


Pelas campinas de azevém

onde abro sulcos

voando livre e feliz

como voa o papagaio colorido

que eu não fiz


Leça da Palmeira, 7/10/2003

terça-feira, 22 de março de 2011

RELÍQUIAS

E por agora basta!!! Esta é para terminar em alegria. Quem é que dizia que a cor é vida?! Pois esta viatura deve ter transportado uma família bem divertida!

RELÍQUIAS

Mais uma relíquia em amarelo e negro. O pormenor da buzina no exterior da viatura.

RELÍQUIAS

Mais um , este descapotável também bicolor. Rodas com raios todos impecáveis!!!

RELÍQUIAS

Vou continuar a partilhar convosco umas quantas imagens destas "velharias". Reparem nas duas tonalidades de bege. Uma delícia!!!

CÂNTICO

A natureza tem vida

Tem música a natureza

A simplicidade a cor

O perfume da flor

Da flor que nasce e morre

Inundada de beleza

A força do vento

A fúria da chuva

A voz cava ou suave do mar

A música do luar

A gota de um bago d’uva

A melodia da terra por lavrar

Um cântico desesperado

Um reino montanhoso de grandeza

A natureza tem vida

Tem música a natureza

Rio da Fonte, 17 Abril 1977

CONTINUA A PRIMAVERA








É certo que ainda brilha o sol, mas de quando em quando um tanto encoberto pelas nuvens. Há sempre uma aragem fresca, especialmente à beira mar.

segunda-feira, 21 de março de 2011

RELÍQUIAS

Que tal este" Cadillac"? É uma verdadeira peça de museu... Foi muito fotografado!

RELÍQUIAS

Bem polidos,brilhantes, era vê-los alinhados no jardim.Não faltavam admiradores e curiosos! Gente de todas as idades.

RELÌQUIAS

No domingo passado, em Vila do Conde estiveram expostos cerca de duas centenas de "donas elviras": havia para todos os gostos, umas bem antigas, outras nem tanto, mas todas elas em muito bom estado. Aqui vão algumas!

PRIMAVERIL







Este arbusto dá umas florinhas brancas algo semelhantes a rosas de toucar. Não sei o nome da planta.
São muito delicadas, pena é que durem tão pouco!

PRIMAVERA !!!







Nesta época surgem flores para todos os gostos, aparecem em abundância e em todo o seu esplendor.

PRIMAVERA EM FLOR







A cor e a delicadeza das flores, mas com espinhos afiados nos ramos. Eis o paraíso para as abelhas!

PRIMAVERA RAINHA DAS FLORES







Chegou a Primavera!!!
Há muito sol e temperatura mais amena.
Oxalá seja para durar...

sábado, 19 de março de 2011

REMINISCÊNCIA

Havemos de encontrar o lago azul,

de mil transparências impregnado.

E o bosque filtrado de verde-luz,

e nós, dois pastores olhando o gado.


Havemos de viver um sonho medievo,

buscando a paz dos deuses na paisagem.

Ao som da flauta reflorirão as rosas,

e mariposas delicadas, dançam na aragem.


Havemos de viver ledos e ausentes,

num reino etéreo e de amor cercados.

Havemos de vestir a nudez dos corpos,

de perpétuas flores campestres, deslumbrados.

Rio da Fonte, 30 de Setembro 1976

PORQUE HOJE É SÁBADO

Hoje devorei

manjares enfeitados

de pétalas musicadas

com exótico sabor

Porque hoje é sábado

fui ouvir o cantor

Hoje agarrei

melodias etéreas

lançadas pela garganta

da orquestra

e pela voz do poeta

Hoje embalei

a minha noite sem sono

e sem cor

e o meu corpo perturbado

pelas canções de amor

E porque hoje é sábado

e porque trouxe comigo

o violino o piano a guitarra

e atirei uma flor

guardei em mim

a voz do cantor

Rio da Fonte, 16 de Maio 1998

sexta-feira, 18 de março de 2011

CONSTATAÇÃO

Na limpidez baça deste espelho

em que me olho,

vejo passar a vida em correria.

E luto por salvar o que me resta

com laivos de extrema teimosia.

O pó do tempo tingiu-me

a pele e os cabelos.

O viço da Primavera foi-se

com a aragem.

Por mais retoques que dê

na maquilhagem,

as rugas teimam em crescer,

não se desfazem.

Nada apaga este meu cansaço,

e no fim de cada viagem

quando a despir o fato me apresso,

vendo-me de novo ao espelho

já nem me reconheço.

Rio da Fonte, 6 de Julho de 2001

quarta-feira, 16 de março de 2011

APENAS O SILÊNCIO

A água está esta noite tão colorida

límpida e tranquila

de face vidrada

À noite o lago é de sonho

apenas a aragem embala

a folhada

Não quero palavras

Não quero ruídos

Lá bem longe a ténue melodia

do sonho de uma noite de Verão

Sabe bem estar só

no meio de uma multidão de estrelas

Sentada as pernas baloiçando

os pés esticados tocam o vidrado

que se rompe então

Não quero que toques o meu ombro

Não quero que beijes o meu cabelo

Apenas o silêncio musical da solidão

Rio da Fonte, 15 Dezembro 1976

segunda-feira, 14 de março de 2011

SONHOS

Sempre que meto a chave na fechadura
para abrir a gaveta dos sonhos,
procuro escutar vozes melodiosas,
viajar por países coloridos,
onde as rosas tenham asas e sintam cio
e as palmeiras dancem em gargalhadas
de fogo e de arrepio…

Espreito em redor o verde e o azul
onde me deixo flutuar…
e desço escadas de sombras,
entre lápides de silêncio
e escuto o cântico das pedras…ao luar.

As vozes cantantes perdem-se…
repetidas em ecos entre montanhas
cavalgadas pelos ventos.
Sinto o perfume da estrela da manhã
a despertar os meus sentidos…
Tento colar as pestanas no travesseiro,
mas a gaveta dos sonhos fechou-se, sem ruídos.


Rio da Fonte, 13 e Novembro 2000

sábado, 12 de março de 2011

A MIGUEL TORGA

Grande é o poeta da penedia,
solitário, livre e sofredor.
Grande é o poeta que não adia
a caminhada, dura e tamanha
de denúncia e de amor.

Grande é o poeta que ousa
enfrentar quem vai ao leme
a conduzir a barca ao lodaçal,
e não teme
erguer a voz contra a divindade
que rege o universo, qual tirano,
no seu trono de cristal.

Grande é o poeta que canta
como quem semeia os frutos da igualdade
da humana condição.
Grande é o poeta quando,
em derradeiro grito repercutido nas fragas,
com tenacidade… tece a perfeição!

Rio da Fonte, 12 /3/2011

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, nasceu em S. Martinho de Anta (Trás-os -Montes- Portugal)1907 - faleceu em Coimbra 1995. É um dos grandes poetas e contistas de língua portuguesa.
Também escreveu ensaios e peças de teatro. Os seus Diários são obras magníficas. Foi várias vezes proposto para o Prémio Nobel da Literatura. Infelizmente nunca ganhou. É um dos meus poetas preferidos.


sexta-feira, 11 de março de 2011

JAPÃO - A GRANDE CATÁSTROFE!!!



Neste dia de tragédia para o população nipónica, deixo aqui uma foto "O cacto e a magnólia". Simbolizará o cacto cheio de picos afiados, a dor e as lágrimas que os espinhos provocam - assim como o sismo e o tsunami; as flores simbolizarão a esperança , a força de viver e desabrochar de novo, do povo do Japão.
Eis a minha singela homenagem.

terça-feira, 8 de março de 2011

DIA DA MULHER



Este dia especial para lembrar e homenagear as lutadoras pela igualdade de direitos Homem/ Mulher, pela dignidade e respeito que lhe tem sido negado ao longo dos tempos, para elas as minhas flores , o meu abraço fraterno e a minha gratidão.

PASSARADA





Os estorninhos este ano parece que estão para ficar. Cobrem os fios de alta tensão do poste que fica perto do meu quintal. Ao entardecer, esfomeados, comem tudo o que existe por ali.
Primeiro os dióspiros, depois os kiwis, agora as laranjas e tangerinas. Nada lhes escapa!!!



O MEU GATO


O Janota anda de novo perdido atrás das gatas.
Nem aparece para comer. Anda todo o "santo dia" fora num "reméu-méu" sem descanso.

MERGULHO NO VERBO AMAR

Mergulho no vento
que desfaz a árvore
que levanta as areias
que semeia a tempestade
às mãos cheias

Mergulho no céu cinzento
onde a nuvem voa
onde as aves caminham apressadas
onde o astro rei se escoa

Mergulho na chuva outonal
que alivia o espírito
que o refresca
que se não pára molesta

Mergulho no sol
Mergulho no luar

Mergulho na vida
Mergulho no mar
Mergulho no verbo amar

Rio da Fonte, 14 de Outubro de 1974

sábado, 5 de março de 2011

ISSO É COMIGO

Porque não tenho o dom da palavra
me escondo
por detrás de pétalas de poemas,
percorrendo horas lentas
a sorver fluidos
de uma Sophia, de um Gedeão.

Porque não sei calcular
a medida
da hipotenusa da vida
atiro para a tela
formas geométricas,
e esqueço o teorema que Pitágoras
nos deixou de lição.

Porque não sei cantar
oiço as baladas
de um José Afonso, de um Adriano,
nas minhas luminosas madrugadas
e solto o corpo e a alma
ao vento a rodopiar,
e sinto que é tempo de bater asas.

Rompo a carapaça em que me abrigo.
E escrevo.
E pinto.
E danço.
Bem ou mal, isso é comigo!


Rio da Fonte,7 de Fevereiro 2004


MONOTONIA

Hoje está cinzento
Entre o cinza azulino
E o cinza de chumbo
E chove

Hoje cheira a petróleo
Espalhado nas águas
Há gases no ar
E gaivotas em terra
A voar

Hoje é um dia triste
Sujo podre e manso
Sem luz
E sem sombras
E vazio de encanto

Leça da Palmeira, 4 de Outubro de 1994

ESTRELA E FLOR


Existe dentro de mim
Uma flor
Cujas pétalas delicadas
Variam sempre de cor
E têm a forma de espadas

É tão singela tão pura
Tão perfumada e airosa
Lembra uma estrela cadente
Deslumbrante
E caprichosa




Rio da Fonte,15 de Maio 1990

sexta-feira, 4 de março de 2011

ESTRELÍCIAS






Trouxe-as da Madeira há um bom par de anos. Agora estão cheias de botões para abrir e alguns já abertos.
É uma flor muito elegante, dura que se farta e não deixa cair as pétalas. Os arranjos florais ficam lindos!!
Por vezes basta uma flor e muita verdura...

terça-feira, 1 de março de 2011

VIAGEM SEM TEMPO

Hoje vou ter a estranha ousadia
de lançar-me desta minha Torre de Solidão
com coragem

Simplesmente com os braços abertos
o dorso curvado em arco e partir
em viagem

São tantos os segredos que a lua e o sol
me ensinaram nessa longa ida
foi com eles que aprendi
a inventar um corpo novo
e a sorrir para a vida

A pintar de rubro todos os medronhos
de azul as noites baças de dor
de esperança a doença sem cor
e despertar num misto de lágrimas e sonhos

Rio da Fonte, 1/1/ 1999